quinta-feira, 2 de abril de 2009

A ditadura do Belo

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Ontem tava na aula de Estética, e o professor, comentou sobre um texto do livro a “Lei do mais belo”, da escritora estadunidense Nancy Etcoff. Neste livro a autora faz um panorama a respeito da ditadura da beleza, do papel que esta representa em nossa sociedade. Ela fala baseada em pesquisas o quanto são beneficiados os indivíduos considerados belos, segundo os padrões estabelecidos, sobretudo pelos Gregos. Padrões que prevalecem até hoje nas passarelas da moda, na tela da TV, nas capas das revistas... Nas pesquisas, ela fala de como nós costumamos ser mais gentis, como descuidamos da segurança, de como descuidamos até de nosso valores, quando interagimos com os belos. Isso não costuma acontecer com os feios. Com os feios, costumamos ser mais duros, inflexíveis... Lembrei que já tinha visto este texto numa outra disciplina deste mesmo professor e num encadeamento de ideias lembrei de um outro fato ocorrido na mesma época que li o texto pela primeira vez. Fato que infelizmente comprovou as teorias apresentadas por Etcoff.
Faz mais ou menos dois anos que o episódio aconteceu. Num domingo, de manhã bem cedo, feriado do dia das crianças, se não me engano, eu estava chegando para jogar o baba num campo aqui de Cajazeiras, quando vi um acidente de carro, que tinha acontecido havia pouco tempo numa pista que fica numa parte de declive em relação ao campo. Esse local se encontra a uns trezentos metros do campo e eu caminhei até lá movido pela curiosidade. Chegando lá, fiquei sabendo os detalhes da tragédia: um grupo de jovens tinha bebido a noite toda, e quando foram embora se dividiram em dois carros e resolveram fazer um racha. O saldo da “brincadeira” foi o a colisão de um dos veículos num poste que em seguida capotou e deslizou por uns cinquenta metros e enquanto deslizava sem controle ainda atingiu um ciclista que seguia para o trabalho. Na colisão uma das ocupantes do carro perdeu um braço, e um rapaz de 25 anos foi arremessado pra fora do carro e, o motorista nada sofreu.
Este parece um simples relato de um acidente banal causado pela irresponsabilidade, se não fosse pelos detalhes. Então vamos a eles. As duas vítimas fatais foram o rapaz de 25 anos, um rapaz bonito, estava bem vestido, estava num carro novo e tinha sido vítima de sua própria irresponsabilidade e imprudência, afinal tinha bebido a noite toda e mesmo não sendo ele o condutor do veículo, de alguma maneira era também culpado pelo acidente. A outra vítima fatal, era um senhor de uns 55 anos de idade, pai de família, nada bonito, vestido para o trabalho (tinha conseguido o emprego havia pouco tempo, depois de um longo período desempregado e estava feliz pela oportunidade muito rara para pessoas de sua idade), estava de bicicleta.
Foi nesse panorama que eu infelizmente constatei o quanto Nancy Etcoff estava certa. As pessoas que, como eu, observavam o acidente demonstravam lamentar muito mais pela morte do jovem, do que do homem trabalhador. Todos sabiam o que provocou o acidente, mas mesmo assim só lamentavam a morte do Jovem irresponsável e descartavam o pobre homem feio que estava apenas indo trabalhar no feriado, às seis da manhã. Tinha até umas senhoras assanhadas que ficavam falando coisas como “que desperdício!” , “ele era gatinho.” Etc., mas para o velho feio nada, nenhuma atenção, nenhuma demonstração de pesar. Fiquei assustado com isso. Como podemos ser tão inconscientes a ponto de ter tais atitudes? Por que fazemos coisas tão absurdas? Às vezes penso que o Homem ainda não está preparado para o pensar... É realmente assustadora a capacidade do ser humano de ser irracional. Não quero dizer com isso que não admiro a beleza. Seria uma enorme hipocrisia, mas as coisas têm limites. Não podemos deixar de lado a saúde, os princípios, os valores de lado em nome de um ideal de beleza. E eu nem falei das absurdas doenças de ordem psicológicas como bulimia, que acometem principalmente as mulheres que querem ter um corpo esbelto a qualquer custo. Como diria Dinaldo, um amigo meu: “Que maionese!”