quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Na mira de quem?



Há algum tempo que não assisto TV com regularidade। Não só por achar que quase tudo que passa é inútil, mas também, porque sempre procuro algo mais interessante para fazer। De vez em quando passo pela frente dela e paro para ver algo que tenha me chamado à atenção. Mas mesmo sem dar esse Ibope todo para ela, é difícil para quem anda de ônibus ou circula pelas ruas não saber o que se passa na caixinha mágica sagrada de todos os lares. Quando escuto algum bordão na rua, já sei que ela tem algo a ver com isso. Os dois últimos que tenho escutado com frequência são: “Meu Deus eu não quero morrer!” e “Aqui não é a TV da Xuxa, aqui não é a Disneylândia, aqui o sistema é bruto!” Os bordões são atribuídos ao pseudo jornalista e apresentador, Uziel Bueno que comanda (essa palavra é ótima para a ocasião) o programa Na Mira, que é transmitido em dois horários na TV Aratu, 7hs e ao meio dia. Esses dias, depois de tanto ouvir os bordões, resolvi assistir ao programa na hora do almoço e quase perdi a fome. Flagras de violência explícita, corpos mutilados, cenas de pedofilia, ridicularizarão da figura humana são algumas das atrações desse circo bizarro que vi. Uma versão ainda mais perversa dos seus outros programas-irmãos, “Se liga Bocão” e “Que venha o Povo”. Acredito que não seja necessário falar o quanto programas desse “calibre” são inúteis e prestam apenas um desserviço a sociedade. Gostaria que ficasse claro de que sou defensor da liberdade de imprensa, mas que esta seja praticada com ética. Toda atividade humana, incluindo o jornalismo, tem que ser fundamentada em valores que as ponham limite. Quem deu o direito para esses... hum... repórteres invadirem as delegacias fantasiados com luvas, capuzes, ternos com faixa de capitão de time de futebol etc. para ridicularizar presos acusados, mas que antes de acusados, são pessoas e por isso mesmo merecedores de respeito e dignidade, seja lá qual for o crime que eles tenham cometido. Essa é a média do sensacionalismo desses programas. Mas o Na Mira de Uziel Bueno foi além. Pra ele quanto mais sangue melhor. Não importa de quem seja desde que esteja fresco e que ele possa mostrar com o máximo de detalhes possível. Ele faz isso tão bem que quase dá para sentir o cheiro dos corpos putrefatos pela TV. A quem ele pensa que está enganando, fazendo pose de bad boy justiceiro? Como quem puniria os acusados com as próprias mãos, se tivesse a oportunidade. Até um cego pode ver que ele não ganharia uma briga para nenhum preso daqueles que ele desafia na segurança do estúdio do seu programa. Alguém tem que dizer a ele que essa imagem não combina com ele. Ele tem cara de menino de prédio, criado com a vó. Menino que não podia sair para brincar de bola e ficava da janela do apartamento dizendo que era o juiz da partida. Ele não tem a malícia e a vivência necessária para esse papel ridículo de durão que ele tenta fazer. O programa apenas serve para banalizar desnecessariamente a violência e o escárnio, criando um imaginário coletivo de que tudo está perdido na sociedade, e que vivemos com total ausência de valores coletivos. E a massa vai absorvendo isso, e cada vez mais se vê crimes violentos sendo cometidos por improváveis criminosos por motivos fúteis e banais. Reflexo desse clima de “a primeira porrada é minha” gerado por esses medíocres formadores de opinião. Definitivamente, não é desse tipo de imprensa que precisamos. Faz-se necessária uma imprensa responsável, que contribua para a elucidação do povo. Que ao invés de só mostrar os fatos com suas linhas editoriais de valores no mínimo duvidosos, mostre alguma perspectiva real de melhora do quadro. Mas como tudo nessa lógica perversa de capital, alguém deve estar lucrando e muito com isso. Pergunto aqui para os meus botões, que nunca me respondem nada (devem ser mudos os coitados), cadê os órgãos reguladores da Imprensa? Cadê o Ministério Público? Será que eles também não assistem TV? Enfim.
Ah! Mais uma coisa Uziel. Não chame o povo de burro. Eles sabem que aí não é a TV da Xuxa e nem a Disneylândia. Se eles quisessem ver estes programas, teriam sintonizados seus aparelhos na Globo ou no Disney Channel e não no seu canal.